O Pensamento e a Liderança Cultural de Carlos Martins “Katchás”, expoente máximo do Funaná em Cabo Verde

Abstract

O presente trabalho teve como objectivo geral compreender o pensamento e a liderança cultural de Carlos Martins “Katchás” na defesa do género musical “Funaná” enquanto expressão identitária africano-identitária e a sua influência nos músicos cabo-verdianos. A pesquisa qualitativa teve em conta entrevistas de Katchás e entrevistas sobre Katchás publicadas em dois jornais do momento - Voz di Povo e Tribuna -. Foram, ainda realizadas entrevistas semiestruturadas obedecendo à lógica de bola de neve a dez músicos cabo-verdianos residentes em Cabo Verde, Portugal e Estados Unidos da América. Posteriormente procedeu-se à análise de discurso e à análise interpretativa dos referidos dados. Os resultados obtidos demonstraram que o pensamento e a liderança cultural de Katchás revolucionaram o cenário cultural cabo-verdiano por uma emancipação e pluralismo de cultura musical popular identitária. A investigação assegura que Katchás se destaca como figura e líder cultural popular após a independência de Cabo Verde, influenciando os fazedores de cultura musical dentro e fora do país. Considerou-se que Katchás é um pedagogo, um filósofo, um cientista, um poeta e líder carismático cultural incomparável do “Funaná”. Isto é, responsável pelo “Funaná Moderno” estilizado, orquestrado. Foi quem regionalizou, nacionalizou e internacionalizou o género que antes da Independência Nacional não tinha nenhum valor, estatuto artístico/cultural – por comparação com a “Morna” e a “Coladeira” e desprovido de qualquer axiologia cultural. Em termos de legado e do impacto, “Katchás” é a figura que marcou a sua geração e inspirou a nova geração de músicos e artistas pela competência, qualidade e mérito. Considerou-se que ele é o maior nome (o símbolo) da cultura popular musical que representa a afrocentricidade, a negritude, a afrologia, o pan-africanismo da cultura africana em Cabo Verde no combate da colonialidade moderna do saber, poder e do ser.

The present work aimed to understand the thought and cultural leadership of Carlos Martins "Katchás" in defending the musical genre "Funaná" as an African-identitarian expression and its influence on Cape Verdean musicians. The qualitative research took into account interviews with Katchás and interviews about Katchás published in two newspapers of the time - Voz di Povo and Tribuna -. Semi-structured interviews were also conducted following the snowball logic with ten Cape Verdean musicians residing in Cape Verde, Portugal, and the United States of America. Subsequently, discourse analysis and interpretive analysis of the aforementioned data were carried out. The results obtained demonstrated that Katchás's thought and cultural leadership revolutionized the Cape Verdean cultural scene through the emancipation and pluralism of identitarian popular musical culture. The research asserts that Katchás stands out as a popular cultural figure and leader after Cape Verde's independence, influencing music makers both within and outside the country. It was considered that Katchás is a pedagogue, a philosopher, a scientist, a poet, and an incomparable charismatic cultural leader of "Funaná." That is, he is responsible for the stylized, orchestrated "Modern Funaná." He was the one who regionalized, nationalized, and internationalized the genre that before National Independence had no value or artistic/cultural status – compared to "Morna" and "Coladeira" – and was devoid of any cultural axiology. In terms of legacy and impact, "Katchás" is the figure who marked his generation and inspired the new generation of musicians and artists through competence, quality, and merit. It was considered that he is the greatest name (the symbol) of popular musical culture representing Afrocentricity, Negritude, Afrology, and Pan-Africanism of African culture in Cape Verde in the fight against the modern coloniality of knowledge, power, and being.