Utilização da internet: adição e efeitos na saúde

Abstract

A Adição à Internet (AI) é uma patologia complexa que tem vindo a ganhar atenção científica significativa devido ao rápido avanço das tecnologias digitais. Definida pela utilização excessiva e descontrolada da internet, a AI ainda não foi formalmente reconhecida como um transtorno independente. No entanto, apresenta impactos negativos claros no funcionamento pessoal, social, académico e profissional dos indivíduos afetados. Embora a AI partilhe traços com outras dependências comportamentais, coloca desafios únicos na avaliação, diagnóstico e tratamento. As ferramentas de diagnóstico atuais, embora úteis, são limitadas pela falta de critérios universalmente aceites, o que leva a inconsistências nas estimativas de prevalência e complica o estabelecimento de abordagens terapêuticas padronizadas. Apesar destes desafios, a investigação tem realçado as associações significativas da AI com comorbilidades psiquiátricas, como a depressão, a ansiedade e a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA), que tornam o seu perfil clínico mais complexo e requerem um tratamento individualizado e minucioso dos doentes. As estratégias preventivas e terapêuticas, incluindo a terapia cognitivo-comportamental, o reforço motivacional, o envolvimento familiar e os programas baseados na comunidade, são promissoras na promoção de uma utilização controlada e consciente da internet e permitem desenvolver hábitos digitais mais saudáveis, abordando tanto os sintomas da AI como as patologias psiquiátricas associadas. Como perspetiva futura, a investigação contínua é fundamental para desenvolver critérios de diagnóstico mais precisos e tratamentos eficazes e direcionados. À medida que a tecnologia digital evolui, é provável que surjam novas manifestações de AI e opções de tratamento inovadoras. Isto exige a colaboração entre clínicos, investigadores, educadores e decisores políticos para desenvolver medidas preventivas baseadas em evidência e protocolos de tratamento que abordem a AI como um problema de saúde pública. Ao fomentar a consciencialização e promover comportamentos digitais saudáveis, a sociedade pode reduzir o impacto da AI, criando uma abordagem mais equilibrada à utilização da internet num mundo cada vez mais refém desta tecnologia.

Internet Addiction (IA) is a complex pathology that has been gaining significant scientific attention due to the rapid advance of digital technologies. Defined by the excessive and uncontrolled use of the internet, IA has not yet been formally recognised as an independent disorder. However, it has clear negative impacts on the personal, social, academic and professional functioning of affected individuals. Although IA shares traits with other behavioural addictions, it poses unique challenges in assessment, diagnosis and treatment. Current diagnostic tools, while useful, are limited by the lack of universally accepted criteria, which leads to inconsistencies in prevalence estimates and complicates the establishment of standardised therapeutic approaches. Despite these diagnostic challenges, research has highlighted the significant associations of IA with psychiatric comorbidities such as depression, anxiety and Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD), which make its clinical profile more complex and require individualised and thorough treatment of patients. Preventive and therapeutic strategies, including cognitive-behavioural therapy, motivational enhancement, family involvement and community-based programmes, are promising in promoting controlled and conscious use of the internet and enable the development of healthier digital habits, addressing both the symptoms of IA and associated psychiatric pathologies. Looking ahead, ongoing research is key to developing more accurate diagnostic criteria and effective, targeted treatments. As digital technology evolves, new manifestations of IA and innovative treatment options are likely to emerge. This requires collaboration between clinicians, researchers, educators and policymakers to develop evidence-based preventative measures and treatment protocols that address IA as a public health problem. By raising awareness and promoting healthy digital behaviours, society can reduce the impact of IA, creating a more balanced approach to internet use in a world increasingly hostage to this technology.