Os signos espaciais dos musseques : interpretação do tecido urbano não acreditado do Catambor

Abstract

Os Musseques representam, na generalidade, cerca de 80% do território da cidade de Luanda e como tal o maior desafio da urbanização do século XXI. Por um lado, na sua maioria com precárias condições de habitabilidade o que transforma em vulnerável, mais de metade da população urbana. Por outro lado, a sua antiguidade centenária na narrativa da cidade, gerou um espaço social identitário que conjuga a ancestralidade Bantu, em especial da Nação Ambundo e Bakongo com a contemporaneidade híbrida Luandense, ou seja, incorpora os valores históricos, sociais e estéticos da cultura urbana. O presente projecto de investigação tem como objectivo o estudo morfológico dos musseques com a perspectiva de ultrapassar um vazio epistemológico sobre os elementos que constroem o sistema urbano. O interesse maior vai para [1] os fundamentos da formação do espaço, [2] as dinâmicas da sua transformação e [3] a caracterização tipológica dos elementos significantes da sua paisagem. Tendo como Objecto de Estudo os Musseques privilegiamos os mais antigos segundo os levantamentos do Gabinete de Habitação de Angola em 1974. Como caso de estudo principal escolhemos o musseque do Catambor localizado no Distrito Urbano da Maianga em Luanda e como casos de estudo complementares os musseques da Calemba, Mulemba e Mota. Definimos um recorte temporal de aproximadamente 50 anos que inicia no último quartel do século 20 até à actualidade. Pretendemos analisar a evolução diacrónica do tecido urbano do musseque e assim chegar à teorização dos tipos significantes. Considerando as circunstâncias foi necessário recorrer aos princípios teóricos das escolas de morfologia como ponto de partida. Da italiana, o conceito de história operativa, da francesa e portuguesa, os métodos analíticos dos sistemas e elementos entre outros contributos pontuais que permitiram formular um método híbrido para a análise e diagnóstico dos musseques. Os resultados conduziram-nos aos [1] processos de transformação do território e da arquitectura vernacular, à caracterização de [2] tipos habitacionais desde a célula até às formas de agregação habitacionais, [3] tipos de arruamentos com base no desempenho e funcionalidade e bem como à teorização dos signos espaciais à luz da filosofia cultural Bantu. Com base nos resultados, julgamos ter contribuído de forma pertinente para [1] a criação de ferramentas de apoio à praxis da análise e diagnóstico dos musseques e consequentemente [2] intervir de forma sustentável para a sua integração na cidade contemporânea. Desta forma não só se aumentam as expectativas de garantir a preservação da autenticidade do tecido, legibilidade do espaço mas acima de qualquer outro objectivo, promover qualidade de vida para as populações mais vulneráveis da cidade.

The Musseques represent, in general, around 80% of Luanda’s city and, as such, is the biggest urbanization challenge of the 21st century. On the one hand, most of them with poor living conditions, which makes more than half of the urban population vulnerable. On the other hand, its centennial antiquity in the city's narrative, generated a social identity space that combines Bantu ancestry, especially from the Ambundo and Bakongo Nation with Luanda's hybrid contemporaneity, that is, it incorporates the historical, social, and aesthetic values of urban culture. This research project aims at the morphological study of the musseques with the perspective of overcoming an epistemological void about the elements that build the urban system. The main interest goes to [1] the fundamentals of the formation of space, [2] the dynamics of its transformation and [3] the typological characterization of the significant elements of its landscape. Having as object of study the musseques, we privileged the oldest according to the surveys of the Housing Office of Angola in 1974. As a main case study, we chose the musseque of Catambor - located in the Urban District of Maianga in Luanda and as complementary case studies the musseques of Calemba, Mulemba and Mota. We defined a time frame of approximately 50 years starting in the last quarter of the 20th century until the present day. We intend to analyse the diachronic evolution of the urban fabric of the musseque and thus arrive at the theorization of significant types. Considering the circumstances, it was necessary to resort to the theoretical principles of the schools of morphology as a starting point. From the Italian, the concept of operative history, from the French and Portuguese, the analytical methods of systems and elements among other specific contributions that allowed formulating a hybrid method for the analysis and diagnosis of musseques. The results led us to [1] processes of transformation of the territory and vernacular architecture, the characterization of [2] housing types from the cell to the forms of housing aggregation, [3] types of streets based on performance and functionality and as well as the theorization of spatial signs in the light of Bantu cultural philosophy. Based on the results, we believe that we have made a relevant contribution to [1] the creation of tools to support the praxis of analysis and diagnosis of musseques and consequently [2] intervene in a sustainable way for their integration into the contemporary city. In this way, not only are expectations raised to guarantee the preservation of the authenticity of the fabric, the legibility of the space, but above all other objectives, to promote quality of life for the most vulnerable populations in the city.