Browsing by Author "Correia, Alexandra Teodoro"
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- Impact of Vespa velutina monitoring baited traps on the entomofauna of three protected Portuguese areasPublication . Correia, Alexandra Teodoro; Rebelo, Maria Teresa Ferreira Ramos Nabais de Oliveira; Rego, CarlaOs insetos desempenham um papel fundamental nos serviços de ecossistema afetando diretamente a nossa qualidade de vida. Este grupo está em declínio devido a uma combinação de vários fatores, sendo uma deles a introdução de espécies invasoras. As espécies invasoras afetam a biodiversidade e os ecossistemas através da alteração das suas dinâmicas e possuem várias características que favorecem o seu estabelecimento e sucesso invasivo. Vespa velutina é uma espécie originária do Sudeste Asiático, que se tem vindo a espalhar pela Europa, desde a sua introdução em França, em 2004. Desde 2022 que é considerada bem estabelecida na Europa Ocidental. Estes países possuem condições favoráveis ao estabelecimento e dispersão desta espécie invasora, tais como condições climáticas favoráveis, abundância de Apis mellifera e baixa competição interespecífica. Em Portugal, Vespa velutina foi detetada pela primeira vez em 2011, no norte do país, na região do Minho. Em 2020 foi estimado que já existiam populações estabelecidas em mais de 60% do território continental. V. velutina tem vários impactos económicos nas áreas invadidas, sendo um dos principais a predação nos apiários, que frequentemente leva ao colapso das colmeias e consequentes perdas económicas. Para minimizar os danos provocados por espécies invasoras, são necessários métodos de monitorização e controlo para prevenir a dispersão e possíveis reintroduções. Para tentar controlar as populações de V. velutina e minimizar os danos nos apiários, é frequente o uso de armadilhas iscadas, que atraem os indivíduos e os matam. Contudo, o isco utilizado não é seletivo, o que acaba por resultar num número significativo de capturas acidentais de espécies não alvo. Os países da região Atlântica, da qual Portugal faz parte, colaboraram, entre 2019 e 2023, no projeto Atlantic POSitiVE com o objetivo de prevenir a expansão de V. velutina e mitigar o seu impacto na polinização. Como resultado, armadilhas iscadas foram colocadas ao longo do território português, como parte da rede nacional de vigilância “VIGIAVESPA” incluída no projeto “Plano de Ação para a Monitorização e Controlo da Vespa velutina em Portugal”. O principal objetivo desta dissertação é comparar o número de capturas de V. velutina com o de indivíduos não-alvo, utilizando as armadilhas Véto-pharma VespaCatch®, na entomofauna de três áreas protegidas – Parque Natural da Arrábida, Reserva Natural do Estuário do Sado e Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica – entre os meses de abril e agosto de 2024. Outro objetivo é identificar as principais ordens afetadas por estas armadilhas nas referidas áreas. Adicionalmente, será comparado o número de indivíduos de V. velutina capturados entre áreas com diferentes tempos de invasão. A principal hipótese é que este tipo de armadilha pode ser ineficaz na captura de V. velutina, com maior abundância de Diptera e outros Hymenoptera. Supostamente, haverá maior abundância de V. velutina nas armadilhas colocadas em áreas com invasão mais antiga, uma vez que as populações de V. velutina estarão mais estabelecidas e esta espécie será mais abundante. Após recolha das amostras provenientes das armadilhas, um técnico do ICNF realizou a contagem e separação dos indivíduos de V. velutina capturados. Os restantes indivíduos foram colocados em etanol a 70% e separados na FCUL em ordens, tendo os Hymenoptera e Coleoptera sido posteriormente identificados ao mais baixo nível taxonómico possível. No total, foram capturados 43,633 indivíduos, dos quais apenas 27 (0.06%), eram V. velutina. As ordens mais representadas nas armadilhas foram Diptera e Hymenoptera (com grande abundância de Formicidae), ordens com grande importância no ecossistema, devido ao seu papel como polinizadores, decompositores e agentes de controlo de pragas. Importante notar ainda que os indivíduos de Lepidoptera, relevantes também na polinização, apesar de capturados em número consideravelmente inferior ao das ordens referidas anteriormente, foi consideravelmente superior ao de V. velutina. A remoção destas espécies não alvo do ecossistema pode ter efeitos em cascata na sua dinâmica e evidencia a falta de especificidade destas armadilhas, principalmente tendo em conta a diferença entre a quantidade de Hymenoptera capturados, especialmente Vespidae que não V. velutina, e a quantidade desta espécie. A análise não revelou diferenças estatisticamente significativas na composição taxonómica ou abundância total entre as três áreas protegidas, sugerindo que as condições ambientais, a vegetação, os tipos de habitat e a estrutura das comunidades de artrópodes são similares entre os locais. No entanto, é possível que análises mais detalhadas, ao nível da espécie, pudessem revelar diferenças não detetáveis ao nível da ordem. A diferença na abundância total de capturas entre os diferentes meses não foi estatisticamente significativa. No entanto, a abundância de V. velutina apresentou uma diferença estatisticamente significativa entre os meses de abril (mês com maior número de capturas) e maio (mês com menor número de capturas). Maio foi o mês com mais capturas totais, apresentando uma grande diferença em relação ao mês com menos capturas (agosto), mas não estatisticamente significativa, possivelmente devido à elevada variabilidade entre amostras. Em maio não houve nenhum registo de captura de V. velutina, o que pode estar relacionado com a ocorrência de temperaturas mais altas do que o que seria de esperar nesse mês e também à ocorrência de ondas de calor. Este contraste entre a abundância de V. velutina e a dos indivíduos não alvo em maio sugere que eventos climáticos extremos podem influenciar seletivamente o comportamento dos artrópodes. A composição taxonómica, por outro lado, apresentou diferenças estatisticamente significativas entre estas as estações estudadas, com um maior número de Diptera durante a Primavera, que diminuiu no Verão, e valores mais baixos de Lepidoptera, Coleoptera, Neuroptera e Hymenoptera na Primavera, que aumentaram no Verão. Esta variação pode refletir diferenças nos estados de vida de cada grupo taxonómico, bem como na disponibilidade de recursos. Para contextualizar melhor o número total de V. velutina capturadas durante o período analisado, essa abundância foi comparada com dados no mesmo espaço temporal provenientes da região do Minho, onde a espécie está estabelecida há mais tempo. Esta comparação revelou uma diferença estatisticamente significativa, o que pode refletir um estabelecimento e crescimento da espécie ao longo do tempo. A comparação entre capturas acidentais não foi possível, mas considerando os resultados de outros estudos com armadilhas semelhantes, e no número de indivíduos em cada colónia de V. velutina em áreas onde a espécie está bem estabelecida, é esperado que exista uma diferença significativa entre a quantidade da captura de espécies não alvo e o número de capturas de V. velutina. Os resultados deste estudo levantam questões sobre as consequências ecológicas da captura de espécies não alvo pelas armadilhas Véto-pharma VespaCatch ®. A quantidade significativa de capturas acidentais enfatiza a necessidade de reconsiderar o uso deste tipo de armadilhas, sendo preferível a adoção de métodos alternativos, como o uso de iscos mais seletivos ou métodos mecânicos de captura seletiva instalados diretamente nos apiários. Quando se utiliza este tipo de armadilha, as diferenças sazonais identificadas sugerem que a época do ano em que as armadilhas são colocadas deve ser otimizada, tentando coincidir com um período de maior atividade de V. velutina e menor atividade dos grupos não-alvo. A identificação mais específica das amostras coletadas neste estudo teria permitido obter conclusões mais robustas relativamente às capturas acidentais. Contudo, tal não foi possível devido ao elevado número de indivíduos e às limitações de temporais e conhecimento.